"A dor é dona da sabedoria e o saber amargo. Aqueles que mais sabem, mais profundamente sofrem com a verdade fatal." - Lord Byron





quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

AKHENATOM



Akhenatom

Nas terras de Rá, Isís e Thoth nasceu o herdeiro do trono,
Amenófis batizado assim como o pai, símbolo da força do Egito,
Conheceu a luz.
Depois de encontrar a sua verdade,
Um novo nome adotou,
Em homenagem ao seu culto,
Sempre em respeito ao seu único deus,
Como Akhenatom ele quis reinar.
Mas a sua desgraça ganhou força,
Impulsionada pela inveja dos sacerdotes de Amom,
Outro deus das terras sagradas,
Aliados a sede de poder dos seus generais,
O fim do seu império chegou.
Dos monumentos de Amarna seu nome foi raspado,
Do seu deus Atom apenas a maldição ficou,
Do seu corpo mumificado o ka se perdeu,
O seu Ba continua pelo deserto do Nilo vagando,
Perdido sem ter conhecido um pouco de paz.
Nefertite, a bela esposa, morta foi queimada.
Sua Múmia pelas areias do tempo foi consumida,
Grande Akhenatom, filho de Atom,
Sofreu o seu castigo por ter apenas um deus adorado e
os demais renegado.
A religião é assim,
O martírio de todos os homens,
São os sacerdotes que a todos governam,
Mesmo que pareça o contrário,
Ainda somos por eles controlados,
E por suas ambições castigados.
As perversões que escondemos,
A luxuria que desejamos,
O que não tem nada haver com Deus ou o Diabo,
Mas somente com a mesquinhês de todos nós,
São a chave de todo o mal,
Que por séculos nos persegue,
A dor que nos consome,
Dessa avareza disfarçada que nos destrói,
Eterno pecado que da humanidade, desde Caim,
Os valores honestos corrói.

Akhenatom foi um faraó do Antigo Egito. Seu nome verdadeiro era Amenófis IV, também conhecido como Amen-Hotep. Era um dos filhos de Amenófis III com a rainha Tyi. Sua esposa foi a lendária Nefertite que entrou para a história devido a sua grande beleza e inteligência (era chamada de "a bela que veio"). Akhenatom tentou estabelecer o monoteísmo durante o seu reinado fazendo com que o deus Atom fosse o único venerado em todo o Egito. Foi traído pelo clero de Amom que, em conluio com alguns generais do exército, deram um golpe de estado o tirando do poder. Em seu lugar subiu ao trono Semenarek que não reinou por muito tempo sendo substituido por Tutankamom, cujo nome original era Tutankatom pois era filho de Akenathon. Mais tarde seria assassinado.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

CERTEZA MORTAL


Certeza

Sei que carrego a morte dentro de mim. Sinto que a cada dia aumenta a sua fome. Insaciável e voraz ela me consome. Não é de agora que me acompanha, mas desde antes do útero eu sair comigo ela já estava. Para os outros isto parece um horror. Isto porque desconhecem a razão da natureza. Deles viver eternamente é o maior desejo. Morrer é a minha única certeza. Não fico triste por saber que ela, desde cedo, me acompanha. Até porque estar neste mundo eu jamais queria.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O velho


O velho

Sinto que não sou mais o mesmo de outrora. Meu corpo de hoje, do agora, perdeu o vigor de antes. Meus olhos, cansados pelo tempo, não alcançam mais o horizonte. E minha mente, sem que eu perceba, de muitas coisas não mais se lembra.
Daquele garoto sonhador de 20 anos só alguns retratos na parede. Neste instante quem escreve é apenas mais um homem velho, daqueles que a juventude de agora não respeita mais. As dores que carrego não são da velhice. São dores de outra vida que, ao findar desta, renascerão comigo.
Não reclamo de nada porque sei que a morte não significa o fim. Ela é apenas uma porta que terei que abrir para seguir por mais uma jornada.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

MORCEGOS


Morcegos voam na escuridão. Da noite sem lua saem de suas cavernas. Nas noites de lula também. Voam buscando comida. Nos pescoços dos outros animais matam a sua fome em forma de sede. Grandes e pequenos batem suas asas de pele fazendo barulho por onde passam. Pendurados de ponta cabeça soltam seus excrementos em cima dos vermes famintos. Outros morcegos não necessitam de sangue. Mas para os que têm medo não existem diferenças. Todos são iguais. Morcegos vampiros e nada mais.

O GATO PRETO


O gato preto

Pelo quintal corre o animal,
Brincando com o camundongo quase morto,
Mia e pula o bichano,
Apertando e mordendo o pequeno corpo,
O gato preto
Dos olhos amarelos,
Muita coisa se diz,
Porta voz do azar,
Símbolo do mal,
Bicho de estimação das bruxas,
Encarnação do demo,
No passado, pela Inquisição,
Jogado às fogueiras com os hereges
E inimigos da "fé" e da "religião",
Hoje, livre dos castigos,
Vive saltando do chão,
Para o beiral da janela,
Fica ronronando observando a rua,
Numa pose sempre bela.
O gato preto,
Ao fim da tarde,
Lambe os beiços,
Limpando os pelos,
Adormece sobre o tapete.
Com fome anda pela casa miando para chamar minha atenção,
Sem se incomodar com toda essa superstição.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

O CEGO


O cego

O cego vai pela calçada
Tateando com a bengala,
Titubeante segue seu caminho,
Sendo ridicularizado pelos pobres sem alma,
Seguindo sempre em frente,
Esbarrando naqueles que o vêem,
Mas não enxergam as tristezas deste mundo,
Feridas abertas pela visão do poder e da riqueza,
De homens e mulheres que se entregam à avareza.
O cego vai sumindo,
Desaparece no horizonte,
Da sua eterna escuridão,
Levando consigo o que para os outros parece castigo,
Sem que saibam o que se passa em seu coração.

O CASTELO


O Castelo

No castelo abandonado,
Onde na floresta que o rodeia,
Repousa o enforcado,
Nas suas largas paredes,
As marcas de antigas crenças,
Hoje há muito esquecidas,
Das noites frias e cinzentas,
Na clareira aberta sob a lua cheia,
Elas dançam ao redor da fogueira,
Nuas se entregam à velha magia,
Encantos imploram à natureza,
Feiticeiras, magas e bruxas entoam seus cantos,
Despertando criaturas,
Bebendo do doce vinho da alegria,
Para enganar a morte,
E eternamente ter vida jovial,
Aproveitar dos prazeres da carne,
Assim como sempre fizeram antes.
No castelo abandonado,
Cercado pela floresta densa,
Existem mais segredos do que se pensa.

TENTAÇÃO



Tentação

A bela mulher anda requebrando pela calçada,
Por onde passa olhares e desejos desperta,
Ela sabe a beleza que tem,
Dos seios fartos e das pernas bem torneadas,
Provoca os homens com o vermelho dos seus lábios,
Com a cintura fina também,
Vai ela sorridente com os vastos cabelos ruivos balançando ao vento,
No seu coração a frieza da ganância,
Seus desejos não são de amor,
Mas somente de riqueza.
Pobres coitados os que caem em seus braços,
Dos abraços frios sem alma,
Dinheiro é a palavra que a desperta,
Falsidade e imoral são as marcas que carrega,
Dos desavisados arranca tudo que têm,
Sobre a miséria em que joga as paixões que devora,
Lança gargalhadas diabólicas,
O que faz para ela não é maldade,
Simplesmente se considera uma mulher bela e esperta,
Uma ferida na carne que jamais se fecha,
Uma porta para inferno sempre aberta.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O CORVO


O CORVO

No bico do corvo,
Alma aprisionada pelo agourento
Pássaro negro,
Filho alado da desgraça,
Da aflição que sua presença
Me causa,
Voa corvo sinistro
Para longe daqui!
Nas sombras me espreita o sanguinolento,
Mantendo sua atenção sobre mim.
O que queres comigo
Criatura infernal?
Do puleiro escondido,
Cortando o silêncio sepulcral,
Ouço a resposta que me
Causa arrepio;
“Quero teus olhos!”
O medo o meu coração dispara,
O procuro, mas não o vejo,
Sei que perto ele está,
Vestido de preto
Guarda-me como num velório,
Então criando coragem,
Eu repito: o que queres de mim afinal?
E cortando o vento
Novamente vem a resposta
Que mais uma vez me causa espanto,
Das sombras a ameaça final;
“Quero os teus olhos,
Sei que os provarei num canto
Deste quintal!”

RESTOS


“ Restos “

Na velha cripta aberta,
O cheiro forte do esquecimento,
Marcas do passado.
Velas centenárias apagadas, frio!
Num canto, o ataúde violado,
Dentro, coberto de teias gigantes,
Hoje, lar das ratazanas,
Está o esqueleto empoeirado.
No maxilar quebrado,
O sinal da violência dos vivos,
Os ossos, agora, restos de alguém que o tempo
corrói.
Da vasta cabeleira de outrora,
Um crânio rachado,
No lugar dos antigos olhos azuis,
Duas cavidades escuras que não enxergam mais,
Onde antes havia um empinado nariz,
Agora, buracos habitados pelos
Insetos e outros bichos.
Dos belos dentes brancos,
Nada!
Daquele corpo perfeito de mulher,
Que todos desejavam,
Apenas o sofrimento do espírito inquieto que
vaga.

INSANIDADE



Insanidade

Olho para trás;
Além das pegadas,
Vejo portas fechadas,
Janelas arrombadas.

Olho com atenção,
Percebo olhares estranhos,
Rostos conhecidos, retorcidos,
Corpos nus,destorcidos,
Causas perdidas. Sinto a clava forte,
A força bruta do animalesco
que há em mim,
O desejo contido de destruição, tentando quebrar as correntes,
Encontro as marcas perdidas, esquecidas, as feridas abertas,
A carne apodrecida, o sangue coagulado, o liquido purulento.

Observo os caminhos de ontem, tortos de minha loucura, da falta de Deus,
A amplitude de minha inconseqüência deliberada,
O prazer dos sofrimentos que causei.
Fico imóvel,
Paralisado ante as visões perturbadoras,
Que vão se transformando em vida, a minha vida!
Tentando dominar a razão. Símbolos esquecidos vêm à tona,
Fantasmas saem das sepulturas,
O riso de meu pai,
A voz da consciência,
Chicoteiam-me a alma estarrecida.
Da escuridão, lá do fundo, dos labirintos do meu intimo,
Do ser que escondo, em sua forma de criança, surge o meu castigo, o sinal de minha desgraça derradeira.

Quanto mais observo,
Mais o medo se fortalece,
O horror salta-me aos olhos. Os desejos que assassinei,
Ressuscitam, clamam, todos, pelos seus pedaços de vingança,
Voltam-se irados contra a própria carne.

Em minha boca,
O gosto de sangue,
do meu próprio sangue,
Derramado para lavar os pecados de minha alma.

A dor do sacrifício,
A agonia do esquecimento,
A prisão que me enlouquece.

Das mulheres que possuí,
Surgem, agora, os demônios
famintos,
Do sémem derramado pelas muitas paixões,
Nasce a fúria do meu fim,
Da insanidade que me domina.
A face viva de minha morte !

ATORMENTADO



“ Atormentado”

Vejo o Espírito que vaga pelas sombras,
Eterno, pelo castigo dos séculos,
Pobre diabo amargurado ,
Esquecido pelos vivos de agora,
Pelos que se imaginam vivos !
Preso a antigos sentimentos corporais,
Que hoje não têm mais valor,
Sente a necessidade de expressar o seu amor,
Mas está morto!
Morto, esquecido e enterrado,
Morreu para aqueles em que insiste em amar,
Chora a dor da solidão, do esquecimento proposital,
Do exílio forçado, da angustia sepulcral.
Espírito que chora pelos cantos deste mundo,
Peço-lhe que enxergue a realidade que o cerca,
Volte ao teu lugar de origem,
Deixe essa gente ingrata.
Para todos, há muito estás morto,
Ouça a voz da razão;
Não faça de toda essa agonia sobrenatural,
A tua eterna prisão.
Já tens o teu castigo a cumprir,
Não aumentas o sofrimento que já é muito,
Deixe que o vento o leve para perto do Altíssimo,
Para o paraíso que procuras,
Onde a solidão é apenas uma palavra...
Apenas uma palavra.

INSÔNIA


“Insônia”

Os cabelos negros batem nos ombros morenos,
Do pescoço liso e gostoso,
Dos braços cumpridos.
A boca vermelha sorri,
Acompanhando o brilho do olhar malicioso,
Dos desejos quase sempre proibidos.
Olhares se cruzam,
Cortando o espaço e o tempo,
Dos segundos silenciosos.
Sentimentos escondidos dentro de nossos medos,
Receios que nos ameaçam constantemente,
Desencontros do corpo e a alma.
Carinhos que viram saudades,
E algumas garrafas vazias,
Deixando que a vela de nossas ilusões queime,
Lentamente pela escuridão,
Das minhas muitas noites em claro.

SONHOS


Meus sonhos,
Distantes hoje,
Mais que outrora...

Meus sonhos,
Soterrados pelo
Temor da
Morte.

Meus sonhos nossos,
Aniquilados
Pela força de meu
Próprio egoísmo.

Meus sonhos,
Verdadeiros pesadelos
De agora,
Vozes eternas dos
Fantasmas que me
Cobram...

O CADÁVER

O Cadáver

Um corpo em estado avançado de putrefação,
Sonho dos roedores famintos,
Fedentina que se espalha.
Alimento para os abutres, chacais e outros
carniceiros.
Lar dos necrófilos, das larvas brancas,
Das moscas azuis.
Pus esverdeado, sangue coagulado,
Líquido amarelento de tanta carne apodrecida.
Verdadeira poça nojenta de carne derretida que um dia
Foi gente.
A visão cadavérica do nosso futuro,
O pequeno ponto final.

O PODER DO DINHEIRO


O
DINHEIRO
COMPROU OS
NOSSOS
SONHOS,
AFOGOU NOSSAS ESPERANÇAS,

DESTRUIU
LINDAS HISTÓRIAS,
INVERTEU VALORES.

CORROMPEU
DEUS,
CRIOU RELIGIÕES, IMPÉRIOS DO MAL.

O
DINHEIRO COMPROU AS ALMAS DOS
DESESPERADOS,
FORJOU ASSASSINOS,
FINANCIA A FOME, A VIOLÊNCIA, A DOR,
A GUERRA...

O DINHEIRO LEVOU O
MEU AMOR,
ARRANCOU - ME O CORAÇÃO.

GALHOS QUEBRADOS


Vejo os galhos quebrados,
Mortos,

NÃO !
Dormentes sobre
a calçada
quente
e
pisada pelos vai- e -vens da vida, de nossas vidas,
esquecidas,bandidas,loucas,amadas e mal tratadas.
Vejam
os pedaços quebrados,
vejam...
sintam a solidão da raiz.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O INFERNO


Inferno



O que posso fazer
Agora que tudo não
Importa mais?

Caminhar pelo vale das sombras,
Gritar até não agüentar,
Pular num precipício,
Cortar as veias,
Isso em nada vai mudar
A realidade.

A visão que tenho do paraíso
É repleta de sombras,
Gemidos se perdem na escuridão,
O medo enche meu coração de
Aflição,

Do outro lado do muro
Você observa a minha dor,
Mas a morte não vem por piedade,
Sofrer apenas não basta,
As chagas rasgadas devem
Sangrar até que o corpo sucumba
Deixando livre a alma,

Morrer é apenas uma palavra
Quando se conhece a
Verdade,
A razão pela qual as piras
Foram acessas
Em honra aos deuses de barro,

Santos pecadores adornam seus templos,
E anjos caídos são chamados em orações,
Bajuladores fazem procissões para adular e adorar
Os poderosos,
Do outro lado do muro
Você sabe que estou certo,
Você sabe...
O inferno é aqui mesmo.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

ÓDIO JAMAIS!


Das trevas, solidão e angustia,
O medo constante tomando
forma, deformando-me.
Sofrimento, feridas abertas em
todo o meu corpo rasgado pelo
desespero, dor.
Abandono, a face injusta da
incompreensão humana.
Nada mais que trevas é o que
tenho agora, nada mais.
Minhas chagas, apodrecidas pelo
tempo, esquecidas como Eu, pelas
pessoas que ainda teimo em amar,
sangram.
O meu coração, quase todo corroído
pelo maldito câncer da espera, apenas
espera por mais um dia.
Eu ...
O que sou Eu agora ?
Quem fui Eu ontem ?
Onde estou Eu nesse momento ?
Dúvidas que multiplicam-se, consumindo-me,
devorando-me, destruindo-me, enlouquecendo-me.
Vocês ...
O que esperavam ?
O que pensavam ?
O que queriam realmente de mim ?
Por que abandonaram-me , todos, perdido em meus
pesadelos ?
Apesar das lágrimas, de toda a dor, da solidão,
do sofrimento, da loucura, das trevas e de tudo mais,
Apesar da distância, da ausência provocada, do silêncio maldito,
Ódio jamais!

MIL PEDAÇOS


Folhas secas, árvores mortas.
O rio que não corre mais, desolação.
A natureza perdida em nossas mãos,
Que criam a violência, a dor, a guerra.

Soldados,
Homens violentados pela farda,
Atormentados pelo vazio, pela procura,
pelo silêncio dos olhares que os acusam,
Pelas marcas da morte em suas mãos nos campos
sangrentos do ódio.

Vidas desperdiçadas,
Enganos, poder e manipulação,
Mentiras e destruição, inocentes úteis,
Nada além do fim.

Pedaços pairando no ar,
Pedaços de qualquer coisa,
Pedaços de gente desconhecida.
Destroços que são espalhados,
que se eternizam pelos caminhos.

Ventos gelados sopram continuamente,
Congelando “corações e mentes”,
Esfriando sentimentos
Petrificando a razão..

Mentiras e pedaços,
Nós e mais alguém, todos.
Vícios, crimes e paixão,
Sexo, prazer e corrupção.

Pedaços, perdidos, pairando no ar
Lágrimas que escorrem solitárias ao
infinito,
Pensamentos, nossos desejos, nossas vidas
Nossos amores, nossos crimes, covardias,
Pedaços de despedidas.

Rosas e espinhos.
Mais espinhos que rosas,
Nós... Alguém... Quem?
Velhas canções e livros amarelados, empoeirados,
Esquecidos, largados que jamais serão lidos.
Ignorância fabricada,
Esqueletos escondidos, verdades soterradas.

CAIR NA VIDA


Na mesa do bar,
Dividindo o tempo com as
Garrafas alcoolizadas,
Estou esperando,
Talvez pela vontade de
ir embora,
De pedir mais uma dose,
De ouvir um blues riscado,
De chorar por ela,
De cair na vida...

O BROTO


O broto
brota,
brotando...
Renascendo
vida,
onde
havia
solidão ...
Trazendo
felicidade
onde
havia sofrimento...
O
broto
brota
brotando, apesar deles e de suas ganâncias destrutivas.

BESOURO NEGRO



O BESOURO NEGRO NÃO VOA MAIS;
SUAS ASAS TRANSPARENTES CANSARAM-SE
EM PLENO AR,
E,
COMO PEDRA,
CAIU NO ASFALTO QUENTE, QUEBRANDO-SE
EM VÁRIOS PEDAÇOS DE CARNE,
PISADO,
FOI TRANSFORMADO NUMA PASTA COLADA AO CIMENTO.
O
BESOURO NEGRO,
AGORA,
NÃO MAIS BESOURO, NÃO MAIS BZBZBZBZBZBZBZB!!!
MAS SIM,
OUTRA MARCA NO CONCRETO,
DELE,
RESTOU O POUCO FORTE ODOR,
FÉTIDO PÔR SINAL,
QUE ,
QUANDO PASSAM OS “VIRA - LATAS”, PARAM TODOS,
PARA NELE, PÔR O FOCINHO FRIO.
O BESOURO NEGRO,
VÍTIMA DO PRÓPRIO CANSAÇO,
NÃO VOA MAIS , MORREU !
FOI POSTO NO ESQUECIMENTO
MEU E TEU, NOSSO ...

NATUREZA MORTA



a natureza morta não morreu !
ao contrário; sua vida foi aprisionada
pelo pincel do artista.

está refletida na força das cores,
na paixão da tela,
no prego da parede.

basta prestar atenção;
no vermelho, no azul, no laranja,
amarelo, preto, marrom...

a natureza morta grita vida;
aos olhos de quem olha,
procurando pela alma do artista.

morta está esta espécie de vida,
sem cor, sem reflexo, sem sentimentos,
sem ousadia...

EM BUSCA DA ALMA


vasculho os horizontes
perdidos dos Poetas,
não desses grosseiros
jogadores de palavras.

vasculho, procurando as pegadas da beleza,
tentando encontrar o fio -da- meada.

chega de aforismos
de toda parte,
chega dos oportunistas
em busca da fama.

remexo velhos livros, revisto sentimentos
mofados, tiro-lhes a poeira do tempo.

pego carona com Fernando Pessoa,
sento-me com Eça de Queiroz,
bebo com Edgar Allan Poe,
aprendo com Augusto dos Anjos.

vasculho o horizonte de cada um, de todos !
vasculho o horizonte de mim mesmo,
em busca de minha alma ...

SONETO DO ENFORCADO


SONETO DO ENFORCADO



Veio e trouxe com ele a corda,
Com carinho, lentamente faz o nó,
Procura entre todos, o galho mais alto,
Num golpe preciso, jogou- a pôr cima,
acertando o alvo.
Olhou ao redor, apenas o medo e a consciência o observam, ambos calados.
Arrumou com extremo cuidado, a cadeira improvisada,
Subindo nela, levou o único bem que é seu.
Com a outra extremidade, faz o laço de sua angustia;
Ouviu o medo, ouviu a consciência, não deu- lhes atenção.
Pôr um breve momento, pensou em alguém, alguém que partiu,
Do alto de seu cadafalso, pôs o laço no pescoço.
Prendeu junto a ele todos os sofrimentos,
Tratou, o rejeitado, de fazer sua última oração,
Falou ao Bom Deus, das mágoas que o afligem,
Da vida que não é vida, do amor que acabou, da liberdade que não existe.
Parou, por um instante pensou em desistir, mas num golpe violento, chutou tudo;
A consciência, o medo, as lembranças e o coração.
Deixou, no lugar do adeus, apenas a corda, a cadeira e o corpo pendurado abandonado pela vida.
Foi embora sem dizer uma palavra aos seus,
Hoje, desse poeta da tristeza, sobraram apenas o livro de poemas, a caneta cansada sobre a mesa, o tinteiro pela metade, o quarto sombrio, a mesa do bar e a sepultura esquecida. Chegou ao fim de um conto escrito sem a tinta da alegria, Sem a compreensão dos injustos,
Abraçou a morte.

PEGUE EM MINHA MÃO...


Pegue em minha mão e venha,

Não tenha medo,
Olhe em meus olhos,
O que você vê ? Pegue, sinta a insegurança
Que me devora.
Veja a forma monstruosa
da solidão que me mantém refém,
Olhe para mim...
Pegue em minha mão,
Toque o meu corpo,
Minha alma.
Estou perdido; Eu sei!
Aparentemente, não sou ninguém. Minhas dúvidas
criam a força de meu sofrimento, dão correntes ao
meu desespero, me enfraquecem.
Pegue em minha mão,
Vamos conversar,
Percorrer outros
caminhos.
Escute;
Não tenho paz, não tenho perdão pêlos meus erros,
Não tenho nem a mim mesmo!

O que tenho não tem valor para essa gente,
Para esse mundo estranho que criaram,
Não faço parte do clube.

Pegue em minha mão, pôr favor...

UM POEMA



Um Poema

Peço que escreva um poema, não um poema qualquer,
Escreva com a pena ainda virgem, sobre o papel amarelado pelo tempo,
não tenha pressa, apenas escreva o poema.

Se te faltar a inspiração necessária, procure dentro de ti,
Olhe ao redor, preste atenção nos Elfos, nas Ninfas, nos
Duendes, nos seres invisíveis da Natureza.

Passe as mãos sobre as folhas verdes, sinta a brisa selvagem,
Brinque com os pequenos inocentes, observe os namorados,
Veja o céu, o mar, as estrelas, os rios e a formosura da lua cheia.

Vamos, escreva o poema que corre em tuas veias, que palpita em
teu coração, que borbulha em tua mente, que brilha em teus olhos,
Que repousa em tua alma.

PAIXÃO



a paixão, quando vem, a vida muda,
deixa a gente, assim, meio boba,faz
o que bem entende dentro do peito.

a paixão, esse bicho que nos devora, não tem piedade, não correspondida, vira ferida, transforma a vida em loucura.

queima dia e noite, afoga no álcool da dor, o que antes era alegria.

não conheço ninguém que saiba da
vida, sem ter as marcas dessa ferida que demora, não cicatriza.

paixão, dizem, não é amor,
é algo mais forte, vai além,
é radical, invade o peito, aperta
o coração, rasga a gente pôr dentro.

acredito que a paixão é causa,
é um sentimento que cega, que agrada, que humilha, que entorpece os desavisados.

uma coisa é certa; vida sem ela,
não é vida, viver é estar sempre
apaixonado. uma paixão só é como uma andorinha solitária,
“não faz nenhum verão!”

CIGARRO MALDITO


CIGARRO MALDITO



Quando o cigarro acaba a noite,
Ela rola na cama,
inquieta,
Fica o teto a olhar.

Quando o cigarro acaba a noite,
Um cafezinho não basta,
Doces apenas mudam o paladar,
Mas o gosto do vício continua lá.

Quando o cigarro acaba a noite,
Procuram-se os bares ainda abertos,
Mesmo que sejam aqueles,
Instala-se na mente e no coração,
O terror !

Quando o cigarro acaba a noite,
As bitucas, antes abandonadas,
Em poucos minutos, se transformam
Na porta de salvação.

Quando o cigarro acaba a noite,
Sentimos o quanto somos escravos,
O quanto perdemos de nossa vontade,
Quando o cigarro acaba a noite,
Acabamos junto com ele.

GOTAS


” GOTAS “

o punhal cravado no peito,
sangue pelo chão,
as marcas do sofrimento
no olhar perto da morte.
a fala que não emite voz,
a escuridão tomando a luz.


as gotas rubras,
as gotas, insanamente,
rubras;
o vermelhão se derramando sobre a alma.
afogando-me...
engasgando-me continuamente.

SONETO 04235



“ 04235“

O corpo aberto sobre a mesa,
Do corte profundo feito no peito,
Salta o enorme coração silencioso,
Os lindos olhos azuis vidrados,
Ressaltam a expressão pálida do sofrimento,
Do rosto rígido, da fisionomia cadavérica,
Da boca aberta, que não fecha, nota-se a
Língua inchada e roxeada,
Sai o gás mal cheiroso dos pulmões
Que não respiram.
O cirurgião,
Sujo de sangue coagulado,
Com o bisturi afiado,
Corta a carne enrijecida.
Tira, usando a pinça, alguns pedaços
De dentro também,
Na sala fechada, o odor contamina
o ambiente,
Escapa das entranhas apodrecidas.
O purulento líquido amarelado,
Escorre dos ferimentos abertos,
Molha o lençol sobre a mesa fria,
Pinga, formando pequenas poças no chão.
Em meio ao silêncio mórbido,
Pode-se ouvir,
Não só a respiração do médico,
Mas o esforço cotidiano de seu coração.
Aquele corpo agora não possui mais um nome,
Seus documentos, sua vida, seus sonhos,
Foram resumidos numa etiqueta de papel,
Presa com barbante ao dedo do pé direito.
Nela, além da data de entrada no necrotério,
A inscrição, o seu novo “ nome”, 4235 !

OSSOS


ossos ossos ossos ossos ossos
ossos ossos o crânio, ossos ossos
ossos o crânio, o crânio, ossos
o crânio, o crânio, o crânio,
o crânio, o crânio, o crânio, o crânio,
o crânio, o crânio, o crânio, o crânio,
o crânio, ,o crânio, , o crânio
o crânio, ,o crânio, , o crânio
o crânio, ,o crânio, , o crânio
os ossos,os ossos, os ossos, os ossos, os
ossos, os ossos, os ossos, os ossos, os
ossos, , os ossos,
os ossos, ,os ossos,
os ossos, ,os ossos,
esqueleto,esqueleto,
ossos esqueleto,esqueleto, ossos
ossos ossos esqueleto,esqueleto, ossos ossos,
ossos ossos ossos ossos


pilhas e mais pilhas de esqueletos, crânios, ossos, ossos,
muitos esqueletos, muitos ossos, muitos crânios,
em todos os lugares, em toda parte, escondidos, guardados esquecidos, enterrados, queimados...
esqueletos grandes, médios e pequenos,
de homens, mulheres e crianças,
Na China, na Coréia do Sul e do Norte,
No Brasil, El Salvador, Nicarágua, Argentina,Chile,
Em toda a América latina, na Rússia, na Europa, nos
E.U.A., em toda parte.
As marcas, as provas, os crimes dos homens contra a humanidade.

O MENDIGO

O
Mendigo


O sol vai nascendo.
Fazendo a escuridão da noite recuar.
Deixando livre o sorriso do dia.
Nasce forte, quente, luminoso, dono do céu.
Enquanto isso, vou-me encolhendo...
Cada vez mais prisioneiro de meus pesadelos,
Das lembranças, dos desejos e do sofrimento,
Que eu próprio criei.
A luz que o sol erradia,
Ilumina os meus pecados,
Solta os espectros de meus muitos fantasmas.
O suor escorre pela minha face,
Meus olhos demonstram aos que passam,
O medo das incertezas da vida.
Que castigo maldito reservou-me o Todo Poderoso ?
Castigo que consome não só os dias e as noites,
Mas a alma, transformada em pura agonia.
Agonia, essa maldição, que percorre toda a extensão do meu corpo.
Este corpo doente,
Repleto de chagas, largado na calçada fria e suja,
Meio apodrecido,
Castigado pelos raios do sol,
Que queimam as feridas expostas,
A minha morte anunciada.

MAU TEMPO


Mau tempo

A chuva cai...
O frio deita a sua mão
sobre o dia.
O sol, com medo, se esconde
nas cinzas nuvens,
Distantes do horizonte.
A água escorre, vermelha,
Das montanhas solitárias,
Abandonadas, sem a companhia das árvores
arrancadas.
... Cai, molhando as calçadas sujas,
as ruas apressadas, as pessoas...
Os sonhos dos poucos que ainda teimam
em viver à sua própria maneira.
Debaixo de meu cobertor,
Deixo que o tempo passe.
Esse tempo que não passa quando quero,
Que corre quando não espero.
Fico, porém, na angustia do silêncio,
Refém da solidão que não morre.
Castigado pelo frio que
aumenta...
Meus pensamentos se misturam às lembranças,
Lembranças libertas pelo leito ocupado,
Agora, pelo meu sofrimento.
A chuva cai e, talvez,
Quando parar de cair,
Eu não esteja assim, meio vivo, respirando lentamente,
Mas, ao contrário, completamente morto,
Esquecido pelos dias que virão,
Pelos amores que não terei.

PESADELO


Pesadelo

A criança sorri desdentada,
os pequenos sonhos
de todos os dias.
Dias de miséria, de desespero constante,
da falta de amor, da falta de tudo,
da violência brutal.
A criança sorri,
Mesmo quase morta,
esquecida.
Lembrada pela fome que a consome.
Sorri,
diante de toda essa nossa
indiferença.

O BEBADO


O bêbado

Novamente estou bebendo,
Bebo o desconforto deste mundo,
A hipocrisia da sociedade,
A fúria das muitas almas perdidas.
Bebo para queimar o peito,
Corroer as entranhas, desfigurar a mente,
Já doente.
Encho a cara, não para esquecer,
Mas para manter viva a lembrança,
A dor da saudade, o sofrimento do abandono,
O ódio que não sinto.
Bebo por mim, pelas minhas mentiras,
Verdades, desejos e pela arrogância que me acompanha.
Bebo com o meu dinheiro e o mundo, essa falsidade,
Que se foda !

LÁGRIMAS


lágrimas

cada vez
mais distante do
sol,
mesmo assim,
nem tão perto da
escuridão.
ainda que seja a
solidão
uma marca registrada,
pequenos raios
de luz
alcançam meu
coração.
e esta minha viagem
chamada vida
prossegue,
sem que minhas
lágrimas
sejam notadas...

MINHA DOR


SOFRIMENTO

Eu vejo o mundo,
Não como eles,
Mas de maneira só minha.
O meu sorriso não brota
das coisas que eles fazem,
Nasce de uma estranha esperança
que teimo cultivar;
Apesar de tantas tempestades.
O amor que procuro também é
diferente,
Quase sobrenatural,
Apesar do tempo que a tudo leva,
Continua a se fazer presente,
Tal qual o espectro que me assedia na escuridão.
Até mesmo o meu sofrimento não é
igual.
A dor que carrego vem de longe,
De há muitos séculos atrás.
E é a única coisa que posso
chamar de minha,
sem hesitar.

PEDRAS DE GELO



Pedras de Gelo

As crianças estão lá fora,
Caminham indecisas sob as sombras,
O frio corta os seus corações,
Caminham, desarmadas neste mundo repleto de dor,
Violência e sangue.

Seus olhos olham o horizonte,
Procuram o sinal,
Lágrimas caem pelo caminho,
Deus... Onde esta?

O mundo azul gira no universo,
E as nossas consciências giram aonde?
Enquanto brincamos de comprar e vender,
De fazer o mal,
As crianças estão lá fora.

O frio corta os seus corações,
As suas almas sofrem,
Todos nós sofremos...
E o mundo azul continua girando no universo,
Apesar da solidão, do medo e da dor
Das crianças sem destino,
Sem amor.

Algumas criam coragem,
Reagem contra a indiferença,
Tentam quebrar as pedras de gelo a sua volta,
Outras caem pelo caminho,
Atropeladas pelo progresso,
São esquecidas...

Enquanto brincamos de comandar as coisas,
Elas estão lá fora,
E nossos corações estão aonde?
Lágrimas caem pelo caminho,
Todos nós sofremos,
E de tanto sofrimento,
Alimentamos o nosso próprio fim.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

DEVORADORAS


“Devoradoras”


A lagartixa esmagada pela porta,
A lagartixa morta,
Cai ao chão.
Dos ferimentos seus, o odor que se espalha,
Inerte, fica com o tempo que passa.
A lagartixa, carcaça que apodrece,
Devorador que não devora mais.
Da terra, as formigas, os canibais,
Percebem ,sentem a presença putrefada,
As moscas, também.
Formigas, grandes e pequenas, rodeiam o achado,
Cravam-na as mandíbulas que cortam a carne esverdeada,
A lagartixa, sendo pacientemente descarnada,
Sempre organizadas, levam os pedaços que arrancam.
Formigas dentro de suas vísceras podres,
Formigas nos olhos brancos, na boca aberta, na língua roxa .
A lagartixa esmagada pela porta,
Um pequeno esqueleto largado no chão,
Pelas formigas que, em fila, se vão...

FAZER OQUE?



“Infelizmente”

Tê-la por um momento apenas,
Possuir a tua vontade,
Ser a tua alma, controlar os teus desejos,
Sonhar teus sonhos, ser tua alegria,
O teu sorriso, sofrer tuas angústias,
Resolver teus problemas,
Gozar com teu sexo, teu corpo.
Apenas tê-la por um momento,
Me bastaria a eternidade,
Da vida não vivida,
Do trabalho não realizado,
Do poema truncado, mal escrito,
Da visão que, aos poucos, me escapa .
Tê-la seria assim;
Como encontrar a Salvação Divina,
Ter os pecados perdoados,
Não sofrer os castigos do tempo,
Ir a terra prometida, escapar da morte,
Encontrar o Paraíso.
Mas, sempre o mas ;
A distância entre sonho e a realidade,
Constrói os muros da masmorra,
Edifica o castigo que me é concreto,
Esta prisão invisível que coíbe,
Evita o nosso encontro.
Castigo que, não sei por quê cargas d’água,
Nos separa assim;
Tão perto e, ao mesmo tempo, tão distantes.
Tê-la, então, só pôr milagre,
E os milagres, infelizmente, não existem !

NA PRAÇA...


“14 horas”


Com os pombos na praça das minhas lembranças,
Na praça , com os pombos,
Quebrando os cristais do silêncio .
Da praça dos pombos miúdos,
O som do relógio às 14 horas.
Das nuvens cinzas que encobrem o sol,
A sombra momentânea.
Na praça com os meninos e seus Skates,
As meninas e seus patins.
Janelas abertas olham para a praça,
Dos pombos brancos e negros,
Dos pombos que voam e voltam .
Carros passeiam, as motocicletas brincam,
Os sinais abrem e fecham.
No céu azul de domingo, das nuvens,
A chuva que vem,
Se derrama na praça dos pombos,
Também .
O velho com o jornal corre ao abrigo,
O carrinho de pipocas...
As folhas secas, sopradas das árvores molhadas,
Que enfeitam verdemente a praça.
Com os pombos na praça,
O tempo que passa,
A tarde que vai ...

O CÃO


“ O Cão”

O escarro cuspido
De meu peito doente,
Sai de minha boca,
Cai ao chão.

O cão moribundo,
Atacado pelas pulgas,
Pelos vermes,
Pela peste e a fome,

O esquelético cão,
Que vaga abandonado
Nas ruas,
Consumido pela sarna,
O come todo,
Faz do catarro esverdeado,
O banquete do dia.

Sai, o animal,
Coçando as pulgas,
Lambendo os beiços,
Latindo como que agradecendo
Pela refeição.

PAIXÃO

a paixão, quando vem, a vida muda,
deixa a gente, assim, meio boba,faz
o que bem entende dentro do peito.

a paixão, esse bicho que nos devora, não tem piedade, não correspondida, vira ferida, transforma a vida em loucura.

queima dia e noite, afoga no álcool da dor, o que antes era alegria.

não conheço ninguém que saiba da
vida, sem ter as marcas dessa ferida que demora, não cicatriza.

paixão, dizem, não é amor,
é algo mais forte, vai além,
é radical, invade o peito, aperta
o coração, rasga a gente pôr dentro.

acredito que a paixão é causa,
é um sentimento que cega, que agrada, que humilha, que entorpece os desavisados.

uma coisa é certa; vida sem ela,
não é vida, viver é estar sempre
apaixonado. uma paixão só é como uma andorinha solitária,
“não faz nenhum verão!”

O CORCUNDA



O CORCUNDA


o corcunda desce a rua esburacada,
mancando apressadamente, segue pelas vias
apertadas.
o calor intenso aquece o ar que o sufoca, mas
assim mesmo, com toda à pressa, vai o homem
atropelando outros homens, assustando as crianças, sendo motivo dos risos hipócritas.
entra à esquerda, olha para trás, vira à direita, para um pouco e continua novamente.

o corcunda, pessoa estranha, assim parece aos olhos dos diferentes, passa pelas “mulheres da vida”, pêlos bêbados caídos, foge dos vira-latas,
sobe as escadarias, cumprimenta as velhotas.
anda, para e descansa, levanta e aperta o passo,
desce as escadarias.

o pobre homem, cansado e suado, enfim chega em casa. pega a garrafa de Oncinha e com um gole apenas, mata a sede que o acompanha.
senta perto de sua janela e olha o fim de mais
um dia. então, mais uma vez, pegando a garrafa, queima a garganta com outro gole de sua humilde alegria.

FOME


. . . a fome castiga sumariamente os desunidos.
Na força que enfraquece, às vezes mata ou enlouquece. Só
pode falar da fome, quem a conhece bem de perto, já foi obrigado a dormir com ela.
Eu não falo da fome; sinto fome. E o que é pior,
sinto fome de tudo, de todos, dela, de você, de comida, de vida . . .
A fome é mais uma mulher que sabe provocar dor. Companheira da miséria, filha do descalabro.
A fome é mais uma arma que eles usam . . .

ASSIM E SEMPRE



assim e sempre

entro no silêncio de teu quarto meio escuro,
vejo-te, assim ,linda e tentadora como sempre esteves.
deitada , séria e muda sobre a cama branca,
toda de branco vestida, com os olhos azuis parados,
observa a grandeza do universo .
sua pele pálida e os perfeitos lábios roxos,
as mãos sobre o pequeno peito cruzadas,
não respiras, há muito bem sei,
mas mesmo assim, ainda mereces do corpo meu,
o calor.
antes que, pelas mãos da morte, sejas desfigurada,
minha paixão, mulher amada, teu corpo gélido não me
assusta, ao contrário, sinta o forte abraço meu,
neste último momento, o meu sexo sobre o teu.
é chegada a hora derradeira, lá fora, a tua espera,
a cova aberta está.
logo, sob alguns palmos de terra,
descansarás.
e com a tua carne apodrecida, minha querida, a fome dos
famintos necrófilos, vermes malditos,
saciarás.
fica neste meu soneto que, para alguns, escabroso é, até horrível
mesmo, a minha última declaração de amor.
as minhas lágrimas, derramadas pelo sofrimento de tua falta,
a dor de nada poder fazer em teu favor, portando, fica aqui registrado contra a vontade dos hipócritas,
o quanto, em vida, de todas as maneiras, gozamos com prazer
dos sentimentos, das palavras e da carne que nos pertenceu.
logo, não sei quando, estarei contigo e, novamente, como
quiseres, serei teu !

CARNE PARA OS VERMES


um corpo cai, lentamente,
sem vida,
sem ser notado.
apenas mais um corpo que cai,
ante a indiferença dos vivos - mortos que passam.
cai,
como as folhas secas no outono,
como a chuva fria de um dia qualquer
no deserto.

o corpo, cai, imóvel,
sem vida, perdido no imenso mar
de concreto,
como os pensamentos insanos
desta gente doente,
hipócrita.

cai, mórbido e solitário,
sem ser notado como a sombra em meio a escuridão.
apenas um corpo,
mais um corpo indigente,
sem nada, sem vida,
sem ter o que valha a pena
comentar.
mais alimento para os ratos,
mais carne para os vermes.

VERMES


mundo imundo,
sujo pôr nossas violências,
nossos desamores.
manchado pelo sangue derramado,
deformado pela nossa ganância
desenfreada.
mundo
que morre,
a cada dia,
um pedaço ...
imundo mundo imundo,
de homens,
mais vermes que homens,
que não deixam as sementes crescerem flores,
brotarem vida.

COTIDIANO


NAS RUAS POLUÍDAS,
O CHEIRO DE GASOLINA,
MENINOS CHEIRANDO COLA.
O
SINAL
FECHADO,
LOUCOS BUZINANDO,
A POLÍCIA DESFILANDO ESTUPIDEZ,
VIOLÊNCIA,
MOTOQUEIROS
SEM
CAPACETE,
MENINAS QUASE NUAS,
CALOR...
PROSTITUTAS TRABALHANDO,
OFFICE - BOYS ATRASADOS,
GENTE MATANDO O TEMPO,
DESEMPREGO...
ASSALTANTES NAMORANDO AS
SUAS VÍTIMAS,
MEDO...
NAS RUAS SUJAS,
BÊBADOS NAS CALÇADAS,
GENTE QUERENDO PÃO,
FOME, DESESPERO...
EU,
OBSERVANDO,
OBSERVADO,
SÓ...

FUGITIVO


... correndo deste mundo
louco,
de minhas loucuras,
de você.
... correndo de mim mesmo,
de nós, deles, dos outros ...
correndo,
do medo,
da violência,
da dor,
da agonia cotidiana,
da solidão,
das nossas faltas de amor.
... correndo dos sonhos,
dos pesadelos, da vida, da morte, do
desespero constante.
correndo... sem sair do lugar...
correndo para longe da escuridão, fugindo da luz.

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