
“ 04235“
O corpo aberto sobre a mesa,
Do corte profundo feito no peito,
Salta o enorme coração silencioso,
Os lindos olhos azuis vidrados,
Ressaltam a expressão pálida do sofrimento,
Do rosto rígido, da fisionomia cadavérica,
Da boca aberta, que não fecha, nota-se a
Língua inchada e roxeada,
Sai o gás mal cheiroso dos pulmões
Que não respiram.
O cirurgião,
Sujo de sangue coagulado,
Com o bisturi afiado,
Corta a carne enrijecida.
Tira, usando a pinça, alguns pedaços
De dentro também,
Na sala fechada, o odor contamina
o ambiente,
Escapa das entranhas apodrecidas.
O purulento líquido amarelado,
Escorre dos ferimentos abertos,
Molha o lençol sobre a mesa fria,
Pinga, formando pequenas poças no chão.
Em meio ao silêncio mórbido,
Pode-se ouvir,
Não só a respiração do médico,
Mas o esforço cotidiano de seu coração.
Aquele corpo agora não possui mais um nome,
Seus documentos, sua vida, seus sonhos,
Foram resumidos numa etiqueta de papel,
Presa com barbante ao dedo do pé direito.
Nela, além da data de entrada no necrotério,
A inscrição, o seu novo “ nome”, 4235 !
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