O DIABO A MINHA FRENTE

O DIABO A MINHA FRENTE

os olhos vermelhos na escuridão
cheiro de enxofre tomando o ar
e um arrepio desgraçado na nuca
vem cá meu filho senta aqui
vem cá vamos conversar
uma velha história vou contar
esses cabelos brancos
passaram por tantas coisas
meus olhos cansados
esses olhos velhos aqui
viram tudo o que aconteceu
ele estava ali parado me olhando
faíscas na escuridão me cercando
faíscas anunciando o fim do mundo
de longe pude ver seu sorriso
aqueles dentes brancos
uma língua comprida babando
um fedor insuportável
uma velha história desse lugar
vem cá meu filho peça uma
encha bem o copo
era o diabo parado bem ali
sorrateiro me encarando
duas faíscas na escuridão
era o gramunhão filho do cão
não dizia nada apenas olhava
as pernas tremiam
paralisado eu fiquei
ele ria e o céu relampeava
e o que eu fiz então
criei coragem e fui dizendo
seu chifrudo larga de manhã
vamos tomar umas boas doses de cana
larga de manha seu diabo
ele deu um salto e veio mancando
mancando me puxou pelo braço
viemos aqui para esse lugar
bem ai mesmo onde você está
bebemos até o dia raiar
enchemos a cara sem parar
agora é a sua vez chegou a sua hora
peça uma dose e aguarde ele chegar
o diabo é o dono desse bar
velho gramunhão filho do cão

RUI AMARO GIL MARQUES