MUNDO CAOS E O ENIGMA DE FLORBELLA
Rui Amaro Gil Marques
Ela estava deitada na banheira. A água morna cobria todo o
seu corpo deixando escapar apenas os braços, que pendiam para fora recostados
nos beirais.
Seu olhar, perdido no tempo e no espaço, focava o teto marcado
pelo mofo e pela umidade. A boca aberta mostrava lindos dentes brancos em
contraste com a língua roxa, que parecia querer escapar da garganta. A pele branca se contrapunha com a sombra que
cobria aquela cena, diga-se de passagem, digna de um clássico de suspense.
Sim, ela estava morta.
O sangue ainda brotava dos seus pulsos cortados. Caído não muito
distante podia-se ouvir o celular chamando em desespero. Alguém tentava a
todo custo falar com ela. Talvez impedi-la de cometer alguma loucura ou
simplesmente uma de suas amigas querendo saber como foi o seu encontro da noite
passada.
As horas passam sem dar a mínima para o que aconteceu a
ela ou com quem quer que seja. Seguem seu ritmo como sempre fizeram mesmo antes
do ser humano dividir o tempo e inventar os relógios na ânsia de controlar a vida.
O sangue escorria pelos pulsos usando os dedos como atalhos
para chegar ao chão e assim formar duas
poças rubras marcando a presença da morte.
Roupas espalhadas e gavetas reviradas indicavam que alguém
procurava por alguma coisa de valor. Sendo assim, pela lógica policial
dos seriados tipo CSA, não teria sido um suicídio, mas sim um
assassinato.
E se isso fosse comprovado quem seria, ou seriam, os
principais suspeitos? Que tipo de
criminoso obriga a sua vitima a cortar os próprios pulsos e aguarda que ela
morra lentamente enquanto revira seu apartamento?
Sobre a mesa uma garrafa de vinho tinto seco e duas taças
pela metade, intocadas. Ela não estava
sozinha.
Vamos imaginar que o assassino ou a assassina seja alguém
que ela conhecia. Uma pessoa de quem ela confiava. Alguém muito próximo. Um
amigo, amiga, um caso amoroso ou apenas mais um desses relacionamentos sexuais
sem envolvimento afetivo mais intenso. Ou, para irmos além em nossas suposições
talvez um cliente?
O fato indiscutível é que a linda mulher estava morta, seu
corpo nu numa banheira e os braços estendidos para fora com os pulsos cortados
por onde a vida lhe escapou.
Do outro lado da cidade um jovem enrola um baseado (cigarro
de maconha) enquanto ouve com seus amigos uma seleção de músicas do Pink Floyd
(uma banda de rock progressivo da Inglaterra).
Todos se concentram nas notas musicais viajantes de The Dark Side of the
Moon sem se preocupar com o caos do mundo moderno.
Sirenes tocam avançando sinais e bêbados vomitam pelas
calçadas. Nas esquinas garotas e garotos
marcam presença junto a um grupo de prostitutas semi nuas que se
oferecem para possíveis clientes ávidos por sexo e o que mais aparecer noite a
dentro.
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